" Tenho pena de nunca ter jogado no FC Porto"
Entrevista com João Pinto, jogador do Sporting de Braga
Por que razão não terminou a carreira este ano?
Prefiro dizer-lhe por que razão continuo a jogar. Pelo gosto que tenho pelo futebol e por saber que estou em condições de jogar em alta competição, entendi, juntamente com o Braga, continuar a jogar. Individualmente, a época passada correu muito bem, estou num clube onde me sinto acarinhado e, neste contexto, não encontrei motivos para não fazer mais uma época.
Não corre o risco de passar uma temporada inteira a ser analisado ao pormenor?
Eu só vou acabar quando entender que o devo fazer e não porque os outros acham que está na altura. Quem decide a minha vida sou eu. Enquanto tiver clubes interessados, enquanto sentir que tenho capacidade para jogar, continuarei. Por muito que haja quem goste ou não.
Na próxima época, o Sporting de Braga vai lutar pelo título?
Os objectivos são traçados pelo presidente.
Sérgio Conceição seria um bom reforço?
O Sérgio é um óptimo jogador, mas é por opção dele que não fica no Braga.
Jogaram juntos na selecção durante vários anos. Que relação tem com o técnico Jorge Costa?
Confesso que nunca me passou pela cabeça "apanhar" o Jorge como treinador. Mas posso dizer que trabalhar com ele tem sido uma experiência óptima. Somos amigos há muitos anos, mas no campo somos profissionais.
Acha que tem sido convincente naquele papel de pessoa tranquila e calma?
Ele sempre foi assim, por isso não fui apanhado de surpresa por esta postura do Jorge Costa. Sempre foi um atleta altamente profissional e tem a mesma postura como técnico.
Até onde acha que ele pode chegar? A treinador do FC Porto?
Ele é um grande profissional. Tem uma carreira à frente dele.
Quando foi para o Boavista acreditava que ia terminar a carreira no Bessa...
No início, pensei que era isso que iria acontecer. Mais tarde, percebi que não seria bem como eu pensava no início.
O que é que correu mal?
Não interessa o que correu mal ou porque correu. Agora estou no Braga.
O Boavista atravessa uma fase muito difícil. Custa-lhe ver o seu primeiro clube nesta situação?
Bastante. Custa ver colegas meus, chefes de família e bons profissionais, a passar por dificuldades. E custa ver o Boavista nesta situação.
Sempre disse que tem gratidão por Valentim Loureiro, um dos acusados no processo "Apito Dourado". Falam regularmente?
Tenho falado muito pouco com ele, mas é uma pessoa por quem tenho uma grande consideração. A vida, por vezes, prega-nos partidas.
A relação com ele é hoje mais distante?
Não falo com ele apenas porque não se tem proporcionado. Tenho o mesmo sentimento por ele.
Foi treinado por Fernando Santos e Jesualdo Ferreira. Há semelhanças entre os dois?
Não posso comparar esses dois treinadores porque trabalhei com Fernando Santos quando este era técnico principal do Sporting e trabalhei com Jesualdo quando ele era adjunto do Benfica, ou seja, não era ele quem mandava. Mas tive um bom relacionamento com os dois e não digo isto para ser simpático. Na época passada, Jesualdo Ferreira e o FC Porto estiveram sempre mais próximo do título e a equipa do Benfica, no meu entender, foi aquela que mais pagou a factura dos jogos europeus.
Quem jogou o melhor futebol?
O FC Porto, o Sporting em algumas fases, e, também, o Paços de Ferreira, o Belenenses e o Braga.
Embora continue a jogar, já pode fazer um balanço de carreira...
Ainda não. Só mesmo no fim.
O que é que o futebol lhe tirou?
Tirou-me muito pouco e deu-me muito. Não me lembro de mim sem o futebol. Nunca me passou pela cabeça ser ou fazer outra coisa.
Começou tão cedo que no seu caso o futebol tirou-lhe um bom bocado da infância e da adolescência...
Tirou-me mais juventude o casamento do que o futebol. Casei muito cedo, fui pai muito cedo, assumi grandes responsabilidades muito cedo. Isso trouxe uma grande responsabilidade muito cedo.
O que é que vai fazer quando deixar de jogar?
Muito provavelmente continuarei ligado ao futebol, mas enquanto jogar não consigo pensar nisso. No entanto, não faz parte dos meus planos ser treinador de futebol.
Foi a cara do Benfica durante várias épocas e foi um símbolo do Sporting. Falhou o FC Porto...
Falhei e tenho pena. Gostava de ter jogado no FC Porto, mas nunca se proporcionou.
Seria capaz de se adaptar?
Comecei a jogar no Boavista e é sabido que tenho um carinho especial por esse clube e pela selecção nacional. Mas, a determinada altura da minha carreira, que começou era eu muito jovem, comecei a olhar para estas coisas de forma muito profissional.
Seria capaz de almoçar ou jantar com Paulinho Santos para falarem das quezílias que tiveram?
Não quero falar de coisas que já lá vão. Não me apetece falar disso.
Com Scolari, deixou de ser convocado. Ainda se lembra da primeira internacionalização?
Muito bem. Na minha primeira internacionalização passei o jogo a olhar para o equipamento. Estava tão orgulhoso!
Figo ou Cristiano Ronaldo?
Essa uma questão a que nunca irei responder.
Uma carreira no estrangeiro ter--lhe-ia permitido evoluir mais como jogador?
Se se se. Não sei. Sei que não me arrependo das decisões que tomei.
Está entre os melhores jogadores portugueses de sempre?
Não gosto de falsas modéstias. Tenho a noção de que estou no lote dos melhores jogadores portugueses de sempre. Provavelmente, nos dez melhores. Pelo que fiz e pelos clubes por onde passei.
No fim, de que é que vai ter mais saudades?
Das selecções jovens e das brincadeiras que fazíamos juntos. Ainda hoje continuamos unidos. Tivemos o privilégio de ter o professor Queiroz a educar-nos para o futebol, juntamente com Nelo Vingada.
Rui Costa, Paulo Sousa, Vítor Baía, são potenciais dirigentes desportivos...
Seria muito positivo para o futebol se isso acontecesse.
Vê-se nesse papel?
Enquanto jogar não penso em mais nada.
Se não tivesse sido jogador de futebol, sem o dinheiro que ganhou, teria tido tantos amigos?
O dinheiro faz mal a muita gente e há quem, por causa do dinheiro, seja capaz de fazer coisas que nem nos passam pela cabeça.
Já sentiu isso?
Já senti isso. Infelizmente já. Mas não vou pormenorizar.
Como é que está o processo judicial relativo à sua contratação pelo Sporting?
Não me pronuncio sobre isso.
Depois do processo estar a correr já falou com José Veiga sobre o assunto?
Não me pronuncio sobre isso.